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Fórceps e vácuo-extrator – quando é indicado usar?

Parece coisa da idade da pedra, mas a verdade é que os instrumentos obstétricos ainda existem e podem ser úteis em situações particulares.

Fórceps é um instrumento obstétrico que consiste em duas colheres de ferro que se conectam em uma haste; podem ser utilizados para rotacionar e extrair o bebê.

Vácuo extrator é um instrumento obstétrico que consiste em uma ventosa que se acopla no crânio do bebê e se conecta a um sistema de vácuo que faz pressão para facilitar a extração do bebê.

Falaremos sobre as vantagens e desvantagens destes métodos, mas antes, porque e quando devemos utilizar um instrumento obstétrico?

A principal indicação é um período expulsivo prolongado. O período expulsivo é a fase final do parto, a partir da dilatação total do colo com a presença de puxos espontâneos (a vontade involuntária da mulher de fazer força para expulsar o bebê). O ACOG (Colégio Americano de Ginecologia e Obstetrícia) definiu período expulsivo prolongado quando dura:

  • Primigesta sem analgesia: > 3h
  • Primigesta com analgesia: > 4h
  • Multípara sem analgesia: > 1 h
  • Multípara com analgesia: > 2h

Entretanto, períodos mais prolongados do que estes podem ser aguardados desde que mãe e bebê estejam bem; então, nem sempre é necessário usar um instrumento obstétrico nestes casos. Entretanto, devemos considerar a dificuldade do bebê progredir no canal vaginal e o desgaste materno, além do bem estar fetal, para tomar a decisão.

Alterações da frequência cardíaca fetal também podem motivar o uso de um instrumento obstétrico, no sentido de ultimar o nascimento e prestar assistência ao bebê recém-nascido o mais rápido possível. Entretanto, é muito comum interpretações errôneas das variações da frequência cardíaca fetal que são fisiológicas durante o período expulsivo. A cardiotocografia e sua correta interpretação são importantes no diagnóstico correto destas variações.

Condições maternas podem motivar o uso destes instrumentos; cardiopatias, doenças neurológicas, por exemplo, podem determinar um aumento de risco com o esforço que o período expulsivo impõem, e por isso a abreviação deste período com o uso dos instrumentos pode ser fundamental para o bem estar materno. Além disso, cansaço extremo e puxos ineficazes, motivados principalmente pela analgesia farmacológica, também podem ser fatores de indicação destes instrumentos.

Devemos nos lembrar que nestes momentos devemos colocar na balança o risco do parto instrumentalizado x risco da cesárea x risco da conduta expectante (não fazer nada). Por isso a experiência do profissional é tão importante!

Existem contra-indicações ao uso dos instrumentos obstétricos. As principais são:

  • prematuridade extrema
  • risco de lesão cerebral (má formação craniana, por exemplo)
  • discrasia sanguínea (hemofilia, por exemplo)
  • feto fora da pelve (muito alto)
  • variedade de posição desconhecida (não saber exatamente como o bebê está posicionado)
  • suspeita de DCP (desproporção céfalo-pélvica)

Além disso, não recomendamos que profissionais que não tenham experiência e habilidade com os instrumentos os apliquem sem a supervisão de um colega experiente.

Critérios para a escolha do instrumento obstétrico

O principal critério para a escolha de um instrumento obstétrico é a experiência do profissional. Além disso, disponibilidade do método, nível de anestesia da mãe (ou disponibilidade de analgesia), altura e variedade de posição do feto e conhecimento dos riscos e benefícios de cada método.

Antes da aplicação de qualquer método, a gestante precisa ser informada e consentir com sua aplicação; deve estar com a bexiga esvaziada e em uma posição que torne possível a aplicação do método (por exemplo, para a aplicação do fórceps é necessário a mulher estar em litotomia, mas para o vácuo, ela não precisa estar – pode aplicar com a mulher na banqueta, ou deitada na cama com as pernas apoiadas no colchão).

Um dado muito importante: NÃO É NECESSÁRIO A REALIZAÇÃO DE EPISIOTOMIA PARA APLICAÇÃO DE INSTRUMENTO OBSTÉTRICO. Há um aumento do risco de lacerações graves quando se faz episiotomia com aplicação dos mesmos (1).

Pré-requisitos para a aplicação dos instrumentos obstétricos:

  • dilatação total
  • bolsa rota
  • fetos em +2 ou mais baixos (abaixo do estreito médio da bacia)
  • variedade de posição conhecida
  • sem vícios pélvicos
  • consentimento materno
  • disponibilidade de analgesia materna (local ou regional) – para fórceps
  • disponibilidade de cesárea de urgência
  • disponibilidade de reanimação neonatal

*estes últimos 3 critérios fazem parte de qualquer boa assistência obstétrica.

Fórceps

Existem vários tipos de fórceps; o mais utilizado é o Simpson-Brown.

Este é um fórceps utilizado para pequenas rotações (até 45 graus) e extração do bebê

Já o fórceps Kielland é utilizado para rotações de 90 graus (bebês que estão em variedades de posição transversas) e extração, além de corrigir assinclitismos.

O fórceps de Pipper é utilizado nos casos de cabeça derradeira na apresentação pélvica (bebês que nascem sentados e a cabeça fica presa, necessitando de ajuda para a extração).

As vantagens do fórceps em relação ao vácuo extrator são: permite a extração de bebês que estão mais altos na pelve, permite a rotação do feto e correção de assinclitismos e tem maior taxa de sucesso.

As desvantagens em relação ao vácuo extrator são: causam maior trauma no períneo da mãe, causam mais lesões de face, necessitam de mais anestesia na sua aplicação e levam a maior compressão do pólo cefálico.

Uma revisão da Cochrane (2) sobre a escolha dos instrumentos obstétricos mostrou que:

  • Fórceps tem menor chance de falha – (RR) 0.65, 95%confidence interval (CI) 0.45 to 0.94
  • Fórceps aumenta o risco de lesão perineal grave, trauma vaginal, uso de anestesia e incontinência de flatos.
  • Fórceps tem mais lesão de face (RR 5.10, 95%CI 1.12 to 23.25)
  • Tendência a menos risco de céfalo-hematoma com fórceps (RR 0.64, 95% CI 0.37 to 1.11)

Vácuo extrator

Existem vários tipos de vácuo extratores. Os mais utilizados são:

Os vácuos extratores são mais fáceis de aplicar, não requerem analgesia materna, causam menos lesão perineal e comprimem menos a cabeça do feto. Em contrapartida, não podem ser usados em bebês prematuros, causam mais céfalo-hematoma e tem maior taxa de falha.

Na prática clínica, eu praticamente não utilizo mais o fórceps e utilizo com relativa frequência o vácuo-extrator; eu o aplico mesmo nos partos sem analgesia, na posição que a paciente estiver.

O vácuo deve ser aplicado a 3 cm da fontanela bregmática; a tração do bebê deve ser feita junto com a contração e o puxo materno e o bebê deve nascer, de preferência, após no máximo 4-5 trações. Se a ventosa desacoplar, uma nova acoplagem pode ser feita, mas múltiplas acoplagens não são recomendadas. Sempre avalie o progresso da descida na primeira, ou certamente na segunda tração. Se não houver descida, prefira a cesárea (evite a aplicação sequencial de instrumentos). Lembre-se: abandone qualquer procedimento que esteja sendo difícil!

 

 

Dicas para a escolha do instrumento obstétrico:

  • Fetos em OP ou ODA/ODE, no assoalho pélvico: preferir vácuo extrator pelo menor risco de trauma materno. Preferir copos macios que os rígidos.
  • Fetos defletidos: preferir fórceps
  • Fetos em transversas persistentes: vácuo com copo rígido fazendo rotação manual concomitante ou fórceps Kielland.

Assista vídeos com a aplicação de fórceps ou vácuo extrator.

  1. Kudish B, Blackwell S, Mcneeley SG, et al. Operative vaginal delivery and midline episiotomy: a bad combination for the perineum. Am J Obstet Gynecol 2006; 195:749.

O’Mahony F, Hofmeyr GJ, Menon V. Choice of instruments for assisted vaginal delivery. Cochrane Database of Systematic Reviews 2010, Issue 11. Art. No.: CD005455.

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Gravidez Parto

Métodos Farmacológicos para Indução do Trabalho de parto

No post anterior eu discorro sobre os métodos naturais para indução do trabalho de parto. Quando estes falham ou não são possíveis/acessíveis de serem utilizados e há indicação da interrupção da gestação (no post anterior eu coloco estas indicações), pode-se indicar outros métodos para indução do parto, e entre eles estão os métodos farmacológicos.

Na escolha do método de indução é necessária a avaliação do colo do útero no dia da indução. O colo do útero sofre modificações consideráveis nas vésperas do trabalho de parto; uma estrutura que durante a gestação é longa, cartilaginosa, fechada, passa por processos metabólicos por ação de enzimas moduladas por prostaglandinas que a transforma em uma estrutura amolecida, fina e com algum grau de abertura dos seus orifícios interno e externo.

Veja o colo como é durante a gestação:

1 – corpo uterino

2 – colo uterino

Agora o que acontece com o colo quando o parto está próximo:

1- colo do útero afinado e entreaberto

2 – canal vaginal

E finalmente, o colo do útero durante o processo do trabalho de parto ativo:

1 – colo com dilatação avançada

Sabemos que para o parto acontecer é necessário que o colo do útero sofra estas modificações juntamente com o aumento gradual das contrações uterinas, mediado por ação principalmente da ocitocina, o que leva à descida fetal e dilatação progressiva do colo, até que a dilatação complete e o bebê termine a descida no canal vaginal, até o nascimento.

As modificações do colo do útero são mediadas por substâncias inflamatórias chamadas prostaglandinas, que são liberadas a partir das mudanças hormonais que acontecem no final da gestação, tanto pelo envelhecimento placentário quanto pela maturidade fetal. As prostaglandinas aumentam a ação das hialuronidases, degradando o tecido elástico e fibroso do colo do útero, tornando-o fino e amolecido.

Quando vamos iniciar a indução medicamentosa, avaliamos uma série de parâmetros, não só do colo do útero, mas também da altura da apresentação fetal (em que plano da bacia o bebê se encontra). Estes parâmetros são:

– posição do colo (se posterior, centrado ou anteriorizado),

– grau de esvaecimento, ou seja, o quão afinado o colo está

– dilatação, ou seja, o quanto o orifício do colo está aberto, medido em centímetros

– consistência, ou seja, se é um colo de consistência firme e elástica ou amolecido

– altura da apresentação fetal, ou seja, o plano da pelve que o bebê se encontra.

Baseado nestes parâmetros foi desenvolvido o Índice de Bishop. Dá-se uma nota para cada um destes parâmetros e se a somatória deles for maior ou igual a 6, podemos dizer que o colo está maduro, não sendo necessário usar prostaglandinas como método inicial de indução do parto, sendo indicado já o uso de ocitocina para o estímulo às contrações uterinas.

Métodos para maturação cervical:

Quando avaliamos uma paciente na internação com Índice de Bishop igual ou menor que 6, indicamos métodos de maturação cervical. Os mais utilizados são os análogos de prostaglandinas, principalmente o misoprostol e o dinoprostone.

  1. Misoprostol:

O misoprostol é um análogo de PGE1. Atua sobre a matriz extracelular, com dissolução das fibras colágenas, aumento do ácido hialurônico e aumento do conteúdo de água da cérvice. Além disso, relaxa o músculo liso da cérvice e facilita a dilatação, ao mesmo tempo em que permite o acréscimo do cálcio intracelular, promovendo contração uterina. Todos estes mecanismos permitem o progressivo esvaecimento e dilatação cervical, concomitante ao aumento da atividade uterina, o que garante na maior parte dos casos uma indução bem sucedida do trabalho de parto.

A utilização do misoprostol é fácil e simples, através de comprimidos que podem ser administrados por via oral, sublingual ou vaginal. A maioria dos protocolos utiliza 25 a 50 mcg a cada 4 a 6 horas, via vaginal, em regime hospitalar, permitindo uma monitorização fetal antes e durante todo o processo. Podem ser necessárias várias doses até o deflagrar do trabalho de parto, e algumas mulheres não respondem à medicação, o que se constitui “falha de indução”. Nestes casos, indica-se cesárea.

Os efeitos colaterais mais comuns do misoprostol são taquissistolia e/ou hipertonia uterina (3%), que é o excesso de contrações uterinas ou excesso de tônus uterino, o que pode gerar dor exacerbada com necessidade de métodos não-farmacológicos e farmacológicos de alívio de dor, além de alterações da frequência cardíaca fetal e maior taxa de eliminação de mecônio. Uma outra complicação preocupante com o uso do misoprostol é o aumento do risco de ruptura uterina em pacientes com cesárea anterior (de 0,5% sem indução para 5,6% com indução com misoprostol, o que desaconselha sua utilização nestes casos). Por isso explicamos que uma indução do parto pode gerar uma cascata de intervenções.

Além disso, febre, náuseas, vômitos e diarréia podem acontecer.

Apesar disso, consideramos o misoprostol seguro e utilizamos com muita frequência, pelo seu baixo custo, facilidade de armazenamento e administração e boa tolerância e resposta.

  1. Dinoprostone:

O dinoprostone é apresentado no mercado como uma fita liberadora de PGE2, chamada Propess. Esta fita deve ser inserida no fundo da vagina, atrás do colo do útero, onde a medicação é liberada, fazendo efeito por até 24 horas. É uma medicação mais cara, que necessita de refrigeração, e por isso menos utilizada. Também possui efeitos miometriais e pode levar a taquissistolia e hipertonia uterina, e por isso também é contra-indicada em pacientes com cesárea anterior.

Métodos para estimulação uterina

Depois de maturar o colo, podemos estimular as contrações uterinas, e o método mais utilizado é a ocitocina sintética. É administrada de forma endovenosa, é o famoso “sorinho” e infelizmente é usado rotineiramente em muitas maternidades, inclusive em mulheres que já estão em trabalho de parto ativo, como forma de “acelerar” o processo. Entretanto, seu uso indiscriminado também pode gerar uma cascata de intervenções e desfigurar o processo natural do parto.

A resposta à ocitocina sintética é melhor quanto mais avançada está a gestação, já que os receptores miometriais para ocitocina aumentam com a elevação dos níveis de estrogênio no final da gravidez. A dose deve ser baixa inicialmente e ir aumentando progressivamente conforme a necessidade e resposta de cada caso. Sua utilização com colo desfavorável está associada a percentual elevado de partos prolongados, de doses elevadas com o risco de intoxicação hídrica, de falhas e, consequentemente, aumento da incidência de cesáreas. Nesta situação, praticamente já é consenso que outros agentes, como o misoprostol, têm melhor efetividade.

Devemos nos lembrar que a ocitocina natural apresenta efeitos comportamentais relacionados ao vínculo afetivo da mãe e bebê; já a ocitocina sintética, por não atravessar a barreira hematoencefálica, não apresenta estes efeitos. Uma vez que administramos ocitocina sintética, a natural tende a diminuir e por isso pode haver prejuízos na vinculação afetiva dos partos induzidos com ocitocina.

Vale a pena induzir um parto ou é melhor ir direto para a cesárea?

Esta é uma pergunta muito comum e a resposta é: para a maioria dos casos, vale a pena a indução com tentativa do parto normal. Devemos nos lembrar dos riscos aumentados relacionados à cesárea, como maior mortalidade materna e neonatal e os benefícios do parto normal.

Dicas para as mulheres que vão precisar de uma indução medicamentosa:

  • Procure saber os métodos que serão utilizados, como agem, quais são seus possíveis efeitos terapêuticos e adversos.
  • Discuta com o profissional que te assiste qual é o tempo ou a dose limite de medicação para se decretar “falha de indução”.
  • Saiba que indução demora e você pode ficar vários dias no hospital até entrar em trabalho de parto.
  • Tenha um plano de atividades para fazer durante este período, para que você ocupe sua mente e corpo e diminua a ansiedade.
  • Desmistifique a frase “parto induzido dói mais”. Uma indução calma, bem conduzida, pode te levar a um processo muito parecido com um parto espontâneo.
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Métodos Naturais para Indução do Trabalho de Parto

O trabalho de parto é um evento fisiológico programado para acontecer no final do período gestacional. Uma série de sinalizações bioquímicas levam a liberação de uma cascata de hormônios e substâncias, tanto por parte do bebê quanto da mãe que promovem as transformações progressivas no colo do útero e no miométrio (musculatura uterina), gerando apagamento e dilatação progressiva do colo e contrações uterinas. E isso é o parto – um evento mecânico, regido por hormônios, que visa trazer o bebê para fora do útero atravessando o canal de parto.

A maioria dos bebês nascerá entre 39 e 41 semanas de gestação, mas o período considerado normal para o nascimento é mais amplo: de 37 a 42 semanas. Somente 2,5% dos bebês chegam até as 42 semanas, e um pouco mais da metade ultrapassa a DPP (data prevista do parto). Isso quer dizer que a data que o médico calcula no pré-natal não é o prazo máximo para nascer e sim uma data estimada de maior probabilidade de nascimento em torno dela.

Algumas condições clínicas podem trazer riscos aumentados com o avançar da idade gestacional e é por isso que os limites de espera podem variar dependendo do contexto de cada gravidez. Por exemplo, gestantes com diabetes gestacional com bom controle devem ter os nascimentos até, no máximo, 41 semanas. As gestantes diabéticas com controle ruim e sinais de comprometimento fetal devem, entretanto, ter o parto adiantado para 38 semanas. Estas são situações onde a indução medicamentosa do trabalho de parto pode ser indicada.

As principais indicações para a indução do trabalho de parto são: 

  1. gestação prolongada (42 semanas),
  2. ruptura prematura das membranas (quando a bolsa rompe e o trabalho de parto ainda não começou),
  3. corioamnionite (infecção das membranas amnióticas),
  4. diabetes na gestação,
  5. síndromes hipertensivas na gestação,
  6. outras condições clínicas maternas,
  7. restrição de crescimento intra-uterino,
  8. óbito fetal,
  9. outras.

Além disso, há a ansiedade natural da espera, especialmente em um país onde culturalmente a sociedade não está preparada para dar suporte à gestante que espera o nascimento do seu bebê. Existem muitos mitos e crendices populares sobre o assunto e todo mundo tem uma boa (para não dizer terrível) história para contar de uma tragédia que aconteceu porque uma gestante esperou muito e o bebê “passou da hora” de nascer. Tudo isso tem levado a um interesse crescente nos métodos naturais de indução do trabalho de parto.

Existem vários tipos de métodos naturais. Os mais utilizados são: 

  • estimulação mamária
  • relações sexuais
  • homeopatia
  • acupuntura
  • óleo de rícino
  • chás estimulantes
  • consumo de tâmaras
  • óleo de prímula

Vamos falar um pouco de cada um destes métodos.

  1. Estimulação Mamária

Ao estimular o mamilo, há liberação de ocitocina, que é o hormônio responsável pelas contrações uterinas. Estudos mostram que a estimulação mamária comparada com a não intervenção aumentou o número de parto dentro de 72 horas (37,3 versus 6,4%) e diminuiu a taxa de hemorragia pós-parto (0,7 versus 6%). Porém, não houve diferença entre os dois grupos quando o colo era desfavorável. É um método sem custo e acessível a todas as gestantes, só não temos muita certeza se realmente funciona. Na dúvida, porque não?

 

  1. Relações Sexuais

foto: Google

É um clássico orientar os casais a namorar quando o bebê não quer saber de      nascer. Sabemos que o sêmen é rico em prostaglandinas, que são substâncias importantes para o afinamento, amolecimento e dilatação do colo do útero. Além disso, parece que a estimulação física do pênis na região e o pico de ocitocina liberado no orgasmo também contribuem para a indução do trabalho de parto. Entretanto, não existem ensaios clínicos sobre o assunto.

Como o pós-parto vai chegar em breve e o casal terá 40 dias de quarentena sexual, porque não aproveitar este período para namorar bastante? Entretanto, existe uma contra-indicação: não tenha relações sexuais se a bolsa já tiver rompido, para evitar um aumento de risco de corioamnionite.

  1. Homeopatia

Existem substâncias na homeopatia que são prescritas com o objetivo de produzir um incremento na atividade uterina e modificações no colo do útero. Uma das mais utilizadas é o Caulophyllum thalictroides, que estaria indicado para regularizar as contrações uterinas no trabalho de parto, ou quando as contrações uterinas são fracas e irregulares, ou ainda na parada das contrações uterinas. Um ensaio clínico foi realizado para avaliar a efetividade do Caulophyllum antes do parto para tratamento de inércia uterina e na redução do risco de hemorragia pós-parto. Os autores concluíram que este remédio apresenta uma ação na prevenção de contrações uterinas fracas.

Uma revisão sistemática disponibilizada na biblioteca Cochrane comparou o uso da homeopatia, principalmente preparação com Caulophyllum thalictroides, ao placebo ou outros métodos para indução do parto. Incluíram-se dois ensaios clínicos com 133 gestantes. As informações encontradas foram insuficientes, caracterizando os estudos como de baixa qualidade. Não foram encontradas diferenças significativas entre a homeopatia e o placebo para os desfechos avaliados. Portanto, atualmente são insuficientes as evidências para recomendar o uso de homeopatia na indução do parto, apesar de ser amplamente utilizada no mundo afora. Os que usam garantem que tem benefício.

4. Acupuntura

A acupuntura traz inúmeros benefícios para a mulher que quer engravidar, gestante e puérpera, inclusive na indução do trabalho de parto. O mecanismo de ação é a estimulação direta da produção de ocitocina pela neuro-hipófise com a aplicação das agulhas em pontos específicos. Estudos mostram que a estimulação dos pontos L14, SP6 e BL67 possui efeito semelhante à administração endovenosa de ocitocina e encontram-se relacionados com a possibilidade de indução do trabalho de parto. Além disso, a utilização da acupuntura durante o trabalho de parto está associada à redução da quantidade de analgesia epidural, ao menor uso de ocitocina e prostaglandinas, à diminuição da duração do TP e à maior sensação de relaxamento por parte da parturiente. Trata-se, portanto, de método seguro, sem efeitos colaterais e efetivo.

5. Óleo de Rícino

O óleo de rícino, ou óleo de mamona (em inglês – “castor oil”) é usado desde o antigo Egito como método de indução natural do trabalho de parto. Uma revisão sistemática da Cochrane incluiu apenas um ensaio clínico, o qual comparou a administração de 60 mL de óleo de rícino, em dose única, a nenhum tratamento. Observou-se que 57,7% das gestantes que fizeram uso do óleo iniciaram o trabalho de parto em relação a 4,2%, das pacientes que não fizeram nenhum tratamento. Os autores da revisão sistemática concluíram que não existem dados suficientes na literatura para recomendar sua utilização na prática clínica, sendo necessários novos estudos de boa qualidade.

Há possíveis efeitos colaterais com o óleo de rícino, especialmente náuseas, vômitos e diarréia. A fim de minimizar estes efeitos, muitas parteiras e doulas recomendam o uso do óleo de rícino em forma de shake com amêndoas e suco de pêssego, tornando-o também mais palatável.

6. Chás estimulantes

Algumas ervas e condimentos têm propriedades estimulantes para o útero, como o alcaçuz,  canela, casca do abacaxi, pimentas e podem ser consumidas em forma de chás.

Um dos chás que mais se popularizou no Brasil como método natural de indução do parto foi o chá da parteira mexicana Naoli. Em uma combinação de canela, chocolate, pimenta negra, folha de abacate e especiarias, este delicioso chá pode ajudar a potencializar as contrações uterinas. Obviamente, não há ensaios clínicos comprovando a efetividade deste ou de qualquer chá na indução do trabalho de parto.

7. Consumo de tâmaras

As tâmaras são frutas muito consumidas no Oriente e têm se popularizado entre as gestantes como uma fruta com grande potencial de induzir o trabalho de parto, além de todas as maravilhosas propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e anti-tumorais que ela possui.

Em um estudo de 2011, os pesquisadores fizeram 69 mulheres grávidas comerem seis tâmaras por dia durante 4 semanas antes da data estimada de parto. O estudo também consistiu em 45 mulheres grávidas que não comeram nenhuma tâmara antes do parto. Na conclusão do estudo, os pesquisadores descobriram que as mulheres que comeram seis tâmaras por dia durante 4 semanas tiveram um primeiro estágio mais curto do trabalho de parto com uma dilatação média à internação mais avançada do que o grupo controle. Além disso, 96% das mulheres que comeram tâmaras tiveram trabalho de parto espontâneo em comparação com apenas 79% das mulheres que não comeram tâmaras.

Um estudo mais recente de 154 mulheres comparou 77 que comeram tâmaras no final da gravidez e 77 que não comeram. Os pesquisadores descobriram que as comedoras de tâmaras tinham significativamente menos necessidade de intervenção médica para induzir ou acelerar o trabalho de parto em comparação com aqueles que não comiam tâmaras.

Com base nessas descobertas, os pesquisadores acreditam que comer tâmaras pode reduzir a necessidade de indução do parto. Mais pesquisas são necessárias para confirmar que beneficiaria todas as mulheres.

8. Óleo de prímula

A prímula é um planeta bienal nativo das Américas do Norte e do Sul, mas também difundido em toda a Europa e partes da Ásia. O óleo obtido das sementes por expressão a frio ou extração com solvente é rico em ácidos graxos essenciais ômega-6, incluindo o ácido gama-linolênico. O ácido gama-linolênico é convertido em ácido dihomogama-linolênico (DGLA) no organismo. O DGLA é um precursor da prostaglandina E1, importante no amadurecimento do colo do útero.

Por via oral, o óleo de prímula é usado para a síndrome pré-menstrual (TPM), mastalgia, endometriose e sintomas da menopausa. Na gestação, seja por via oral ou vaginal, é usado nas últimas semanas de gestação como método para amadurecimento cervical. Evidências clínicas preliminares sobre os efeitos da prímula no trabalho de parto são conflitantes e faltam informações sobre a dose utilizada. Um estudo clínico mostra que tomar o óleo de prímula (EPO) três vezes ao dia por 1 semana aumenta a taxa de parto vaginal com sucesso de 51% para 70% e melhora os escores de Bishop e medidas de amadurecimento cervical no termo grávido saudável.

As parteiras tradicionais no mundo todo relatam resultados favoráveis no amadurecimento do colo uterino com a aplicação tópica via vaginal. Mas, ainda não existem estudos que comprovem a eficácia e a melhor dose recomendada para aplicação desta via de administração. O uso de óleo de prímula via vaginal não deve ser aplicado em mulheres após a ruptura da bolsa amniótica.

Por fim, é importante ter orientação profissional sobre a utilização destes métodos antes de usar qualquer um deles. Cada situação clínica exige uma conduta diferente e por isso, não use estes métodos sem uma consulta prévia.