Métodos Naturais para Indução do Trabalho de Parto

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O trabalho de parto é um evento fisiológico programado para acontecer no final do período gestacional. Uma série de sinalizações bioquímicas levam a liberação de uma cascata de hormônios e substâncias, tanto por parte do bebê quanto da mãe que promovem as transformações progressivas no colo do útero e no miométrio (musculatura uterina), gerando apagamento e dilatação progressiva do colo e contrações uterinas. E isso é o parto – um evento mecânico, regido por hormônios, que visa trazer o bebê para fora do útero atravessando o canal de parto.

A maioria dos bebês nascerá entre 39 e 41 semanas de gestação, mas o período considerado normal para o nascimento é mais amplo: de 37 a 42 semanas. Somente 2,5% dos bebês chegam até as 42 semanas, e um pouco mais da metade ultrapassa a DPP (data prevista do parto). Isso quer dizer que a data que o médico calcula no pré-natal não é o prazo máximo para nascer e sim uma data estimada de maior probabilidade de nascimento em torno dela.

Algumas condições clínicas podem trazer riscos aumentados com o avançar da idade gestacional e é por isso que os limites de espera podem variar dependendo do contexto de cada gravidez. Por exemplo, gestantes com diabetes gestacional com bom controle devem ter os nascimentos até, no máximo, 41 semanas. As gestantes diabéticas com controle ruim e sinais de comprometimento fetal devem, entretanto, ter o parto adiantado para 38 semanas. Estas são situações onde a indução medicamentosa do trabalho de parto pode ser indicada.

As principais indicações para a indução do trabalho de parto são: 

  1. gestação prolongada (42 semanas),
  2. ruptura prematura das membranas (quando a bolsa rompe e o trabalho de parto ainda não começou),
  3. corioamnionite (infecção das membranas amnióticas),
  4. diabetes na gestação,
  5. síndromes hipertensivas na gestação,
  6. outras condições clínicas maternas,
  7. restrição de crescimento intra-uterino,
  8. óbito fetal,
  9. outras.

Além disso, há a ansiedade natural da espera, especialmente em um país onde culturalmente a sociedade não está preparada para dar suporte à gestante que espera o nascimento do seu bebê. Existem muitos mitos e crendices populares sobre o assunto e todo mundo tem uma boa (para não dizer terrível) história para contar de uma tragédia que aconteceu porque uma gestante esperou muito e o bebê “passou da hora” de nascer. Tudo isso tem levado a um interesse crescente nos métodos naturais de indução do trabalho de parto.

Existem vários tipos de métodos naturais. Os mais utilizados são: 

  • estimulação mamária
  • relações sexuais
  • homeopatia
  • acupuntura
  • óleo de rícino
  • chás estimulantes
  • consumo de tâmaras
  • óleo de prímula

Vamos falar um pouco de cada um destes métodos.

  1. Estimulação Mamária

Ao estimular o mamilo, há liberação de ocitocina, que é o hormônio responsável pelas contrações uterinas. Estudos mostram que a estimulação mamária comparada com a não intervenção aumentou o número de parto dentro de 72 horas (37,3 versus 6,4%) e diminuiu a taxa de hemorragia pós-parto (0,7 versus 6%). Porém, não houve diferença entre os dois grupos quando o colo era desfavorável. É um método sem custo e acessível a todas as gestantes, só não temos muita certeza se realmente funciona. Na dúvida, porque não?

 

  1. Relações Sexuais

foto: Google

É um clássico orientar os casais a namorar quando o bebê não quer saber de      nascer. Sabemos que o sêmen é rico em prostaglandinas, que são substâncias importantes para o afinamento, amolecimento e dilatação do colo do útero. Além disso, parece que a estimulação física do pênis na região e o pico de ocitocina liberado no orgasmo também contribuem para a indução do trabalho de parto. Entretanto, não existem ensaios clínicos sobre o assunto.

Como o pós-parto vai chegar em breve e o casal terá 40 dias de quarentena sexual, porque não aproveitar este período para namorar bastante? Entretanto, existe uma contra-indicação: não tenha relações sexuais se a bolsa já tiver rompido, para evitar um aumento de risco de corioamnionite.

  1. Homeopatia

Existem substâncias na homeopatia que são prescritas com o objetivo de produzir um incremento na atividade uterina e modificações no colo do útero. Uma das mais utilizadas é o Caulophyllum thalictroides, que estaria indicado para regularizar as contrações uterinas no trabalho de parto, ou quando as contrações uterinas são fracas e irregulares, ou ainda na parada das contrações uterinas. Um ensaio clínico foi realizado para avaliar a efetividade do Caulophyllum antes do parto para tratamento de inércia uterina e na redução do risco de hemorragia pós-parto. Os autores concluíram que este remédio apresenta uma ação na prevenção de contrações uterinas fracas.

Uma revisão sistemática disponibilizada na biblioteca Cochrane comparou o uso da homeopatia, principalmente preparação com Caulophyllum thalictroides, ao placebo ou outros métodos para indução do parto. Incluíram-se dois ensaios clínicos com 133 gestantes. As informações encontradas foram insuficientes, caracterizando os estudos como de baixa qualidade. Não foram encontradas diferenças significativas entre a homeopatia e o placebo para os desfechos avaliados. Portanto, atualmente são insuficientes as evidências para recomendar o uso de homeopatia na indução do parto, apesar de ser amplamente utilizada no mundo afora. Os que usam garantem que tem benefício.

4. Acupuntura

A acupuntura traz inúmeros benefícios para a mulher que quer engravidar, gestante e puérpera, inclusive na indução do trabalho de parto. O mecanismo de ação é a estimulação direta da produção de ocitocina pela neuro-hipófise com a aplicação das agulhas em pontos específicos. Estudos mostram que a estimulação dos pontos L14, SP6 e BL67 possui efeito semelhante à administração endovenosa de ocitocina e encontram-se relacionados com a possibilidade de indução do trabalho de parto. Além disso, a utilização da acupuntura durante o trabalho de parto está associada à redução da quantidade de analgesia epidural, ao menor uso de ocitocina e prostaglandinas, à diminuição da duração do TP e à maior sensação de relaxamento por parte da parturiente. Trata-se, portanto, de método seguro, sem efeitos colaterais e efetivo.

5. Óleo de Rícino

O óleo de rícino, ou óleo de mamona (em inglês – “castor oil”) é usado desde o antigo Egito como método de indução natural do trabalho de parto. Uma revisão sistemática da Cochrane incluiu apenas um ensaio clínico, o qual comparou a administração de 60 mL de óleo de rícino, em dose única, a nenhum tratamento. Observou-se que 57,7% das gestantes que fizeram uso do óleo iniciaram o trabalho de parto em relação a 4,2%, das pacientes que não fizeram nenhum tratamento. Os autores da revisão sistemática concluíram que não existem dados suficientes na literatura para recomendar sua utilização na prática clínica, sendo necessários novos estudos de boa qualidade.

Há possíveis efeitos colaterais com o óleo de rícino, especialmente náuseas, vômitos e diarréia. A fim de minimizar estes efeitos, muitas parteiras e doulas recomendam o uso do óleo de rícino em forma de shake com amêndoas e suco de pêssego, tornando-o também mais palatável.

6. Chás estimulantes

Algumas ervas e condimentos têm propriedades estimulantes para o útero, como o alcaçuz,  canela, casca do abacaxi, pimentas e podem ser consumidas em forma de chás.

Um dos chás que mais se popularizou no Brasil como método natural de indução do parto foi o chá da parteira mexicana Naoli. Em uma combinação de canela, chocolate, pimenta negra, folha de abacate e especiarias, este delicioso chá pode ajudar a potencializar as contrações uterinas. Obviamente, não há ensaios clínicos comprovando a efetividade deste ou de qualquer chá na indução do trabalho de parto.

7. Consumo de tâmaras

As tâmaras são frutas muito consumidas no Oriente e têm se popularizado entre as gestantes como uma fruta com grande potencial de induzir o trabalho de parto, além de todas as maravilhosas propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e anti-tumorais que ela possui.

Em um estudo de 2011, os pesquisadores fizeram 69 mulheres grávidas comerem seis tâmaras por dia durante 4 semanas antes da data estimada de parto. O estudo também consistiu em 45 mulheres grávidas que não comeram nenhuma tâmara antes do parto. Na conclusão do estudo, os pesquisadores descobriram que as mulheres que comeram seis tâmaras por dia durante 4 semanas tiveram um primeiro estágio mais curto do trabalho de parto com uma dilatação média à internação mais avançada do que o grupo controle. Além disso, 96% das mulheres que comeram tâmaras tiveram trabalho de parto espontâneo em comparação com apenas 79% das mulheres que não comeram tâmaras.

Um estudo mais recente de 154 mulheres comparou 77 que comeram tâmaras no final da gravidez e 77 que não comeram. Os pesquisadores descobriram que as comedoras de tâmaras tinham significativamente menos necessidade de intervenção médica para induzir ou acelerar o trabalho de parto em comparação com aqueles que não comiam tâmaras.

Com base nessas descobertas, os pesquisadores acreditam que comer tâmaras pode reduzir a necessidade de indução do parto. Mais pesquisas são necessárias para confirmar que beneficiaria todas as mulheres.

8. Óleo de prímula

A prímula é um planeta bienal nativo das Américas do Norte e do Sul, mas também difundido em toda a Europa e partes da Ásia. O óleo obtido das sementes por expressão a frio ou extração com solvente é rico em ácidos graxos essenciais ômega-6, incluindo o ácido gama-linolênico. O ácido gama-linolênico é convertido em ácido dihomogama-linolênico (DGLA) no organismo. O DGLA é um precursor da prostaglandina E1, importante no amadurecimento do colo do útero.

Por via oral, o óleo de prímula é usado para a síndrome pré-menstrual (TPM), mastalgia, endometriose e sintomas da menopausa. Na gestação, seja por via oral ou vaginal, é usado nas últimas semanas de gestação como método para amadurecimento cervical. Evidências clínicas preliminares sobre os efeitos da prímula no trabalho de parto são conflitantes e faltam informações sobre a dose utilizada. Um estudo clínico mostra que tomar o óleo de prímula (EPO) três vezes ao dia por 1 semana aumenta a taxa de parto vaginal com sucesso de 51% para 70% e melhora os escores de Bishop e medidas de amadurecimento cervical no termo grávido saudável.

As parteiras tradicionais no mundo todo relatam resultados favoráveis no amadurecimento do colo uterino com a aplicação tópica via vaginal. Mas, ainda não existem estudos que comprovem a eficácia e a melhor dose recomendada para aplicação desta via de administração. O uso de óleo de prímula via vaginal não deve ser aplicado em mulheres após a ruptura da bolsa amniótica.

Por fim, é importante ter orientação profissional sobre a utilização destes métodos antes de usar qualquer um deles. Cada situação clínica exige uma conduta diferente e por isso, não use estes métodos sem uma consulta prévia.

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